Com a nova desistência de Luciano Huck em disputar a presidência da República (haverá mais alguma?), fala-se que o establishment está em busca de uma alternativa para a corrida presidencial de outubro.
A bola da vez seria Flávio Rocha, o bem-sucedido empresário dono das lojas Riachuelo. Alguns veículos de comunicação até dizem que ele seria o novo pupilo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não importa.
O que é relevante neste debate, independente de nomes, é o fenômeno do candidato outsider, a quem chamo de filhote de um ato irresponsável de um grupo de legisladores que acabaram destruindo a campanha eleitoral.
Fato concreto e incontestável é que 35 dias de campanha é um período curtíssimo, mais que isso, insuficiente, para que os candidatos à presidência da República se apresentem, mostrem propostas, convençam o eleitorado de que têm o melhor programa para comandar o Brasil.
Se tivéssemos uma campanha nos moldes das de anos anteriores, com mais tempo para que os eleitores conhecessem melhor quem pretende se responsabilizar pelos destinos do nosso país (o que é muito salutar para a democracia), dificilmente uma candidatura de fora da política teria êxito.
E teríamos coisas mais relevantes para saber pela mídia do que o nome do outsider da semana. Ontem era Huck, hoje é Flávio Rocha. E amanhã?
E falo com propriedade porque em 1994 fui um dos profissionais de marketing político que trabalhou para tentar eleger o empresário José Alencar, na época um candidato ousider, para o governo de Minas.
Empresário de sucesso, ex-presidente da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), com muito dinheiro no bolso e a estrutura partidária do então poderoso PMDB por trás, teve um desempenho pífio, com apenas cerca de 10% dos votos válidos.
E por qual razão?
Porque as pessoas não o conheciam e não estavam dispostas a correr risco elegendo alguém que não estava no seu dia a dia. Preferiram colocar no segundo turno Eduardo Azeredo e Hélio Costa, velhos conhecidos na política mineira (o primeiro acabou vencendo a disputa).
Resumo da ópera: a tão sonhada renovação na política não será possível porque não haverá campanha. E é nesse ambiente que aparece o tal candidato outsider.
Quando avaliamos os resultados de pesquisas, especialmente as qualitativas, o que estamos percebendo é que as pessoas não estão acordando de manhã e dizendo:
“Eu gostaria de um candidato a presidente da República de fora da política”. Nada disso. O que elas estão dizendo é: “Um cara famoso, que conheço faz anos, resolveu ser candidato. Ah, nele eu voto”.
Portanto, o outsider não é uma invenção do eleitorado. É uma consequência, uma reação da sociedade à falta de credibilidade, de qualidade da política, versus ausência absoluta de campanha. Simples assim.
“O MARKETING POLÍTICO É UM DOS MAIORES INIMIGOS DA DEMOCRACIA!”
Senador Cristóvão Buarque